Contem-nos como foi… Portugal, antes, durante e depois do 25 de abril

Sr. Rui Conde afirmou que as pessoas foram sendo "aquietadas" por uma forte propaganda política, através do Secretariado de propaganda Nacional e da ação de António Ferro, simpatizante de Mussolini. Em relação à “Operação fim de regime”, o Sr. Rui Conde acrescentou: “Nós, na Guiné, sabíamos que a revolução estava a ser organizada, mas motivação era de natureza corporativista, havia militares que estavam a ser promovidos sem terem passado pelo percurso militar como todos os outros. Acompanhei a revolução pela rádio, isto é, on-line". Quanto à sua participação na guerra colonial, o Sr. Rui Conde disse: “A voz de todos os que lá estivemos continua embargada e foi, então, que partilhou vídeo por ele produzido - "Aprende-se rápido, esquece-se nunca" -, no qual partilhou fotos e imagens, que dispensaram palavras e deixaram ouvir e sentir o som da guerra.
O Sr. Miguel Martins, tendo pertencido à coluna de Salgueiro Maia, destacou a memória que ainda o acompanha do 25 de abril: a adesão alegre da população, cuja euforia quase impedia a passagem dos carros militares e que teve como símbolo os cravos. Os cravos, uma flor barata e abundante, que como disse o Sr. Olímpio, constituiu o símbolo da revolução porque um restaurante fazia aniversário e teve de fechar. Então, a senhora que tinha os cravos para festejar desceu a rua. Um soldado pediu-lhe um cigarro. A senhora respondeu: “Cigarros não tenho, mas tenho cravos!”. Enão, a senhora deu um cravo ao soldado que logo o pôs no cano da sua arma. Foi um dia de festa com a população na rua e as ruas apinhadas. Uma revolução que juntou militares e população.
Os Srs. Matos Barbosa e António Almeida, por seu lado, lembraram alguns dos “espinhos” do Estado Novo: a falta de liberdade de pensamento, de ação e de expressão, a censura e a guerra colonial. O Sr. António Almeida não se inibiu de partilhar com a plateia, num discurso sentido e emotivo, o que foi a sua preparação militar e o que foi participar na guerra colonial em Angola e a guerrilha que se fazia no mato: fome, sede, feridos, mortes… Uma guerra na qual participou também o Sr. Olímpio sem a consciência social e política que agora tem. Uma guerra sem razão, uma guerra injusta para todos os que nela participaram, que impediu o Sr. António Almeida de ver nascer e crescer o seu filho. Este testemunho culminou na leitura de excertos de textos do escritor Lobo Antunes.
Estas palestras contaram ainda com a participação de alguns alunos que, a par dos alunos moderadores, do 12º Ano, apresentaram questões e comentaram. Alguns dos momentos de partilha foram intercalados com a leitura e interpretação de poemas (Vivo uma Vida que não Quero nem Amo (Ricardo Reis in Odes Heterónimo de Fernando Pessoa); Mãos, de Manuel Alegre), uma recriação histórica da “Operação Fim de Regime”, a interpretação das canções “Somos Livres”, pelos alunos do 6ºB, animados pela profª Maria do Céu Pastorinho e “Aquele Inverno”, pelos alunos do 12º ano, acompanhado pelo prof. Miguel Costa. No final, surgiu uma voz do futuro, uma voz doce, sensível, perspicaz e assertiva. A voz da aluna Ana Miguel, do 11ºB, Uma voz do presente, que se preocupa com o futuro, que nos falou e alertou para as ironias e incongruências que atravessam os atos dos seres humanos e a própria Vida, fazendo com que esta se torne num mistério. Um mistério indecifrável? Caberá aos nossos jovens irem à descoberta, à descoberta dos seus destinos e de como continuar a cumprir e aperfeiçoar o Portugal nascido em Abril.

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