"Camoinz Hépyco-Lyrico"
Descalça vai para a fonte
Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
(Luís de Camões)
Luís Vaz de Camões, esse poeta renascentista que atravessou e atravessa os tempos. O “nosso” poeta, que ofereceu significado, sentimento, ritmo, musicalidade e beleza às palavras, numa dança interminável de teses e antíteses, de forças contrárias como a água e o fogo, ao jeito de Petrarca. Uma dança na qual se foi definindo a silhueta do amor platónico por uma mulher ideal, distante e envolta de sensualidade. Uma dança recheada de hipérboles, metáforas, trocadilhos, personificações, que dão conta de sentimentos constantes de insatisfação e incompreensão e que colocam a nu os desconcertos de um Mundo que atrai D. Sebastião para uma viagem sem retorno.
Enfim, um momento único, e, utilizando as palavras do próprio D. Sebastião, “SUBLIME”.